sábado, 8 de junho de 2013

O Homem sem Rosto






Na bruma da noite,
o teu vulto eu vejo aparecer
e quanto mais de mim
te aproximas
mais eu desejo te ver.
Mas sempre é a mesma coisa:
- Vejo que te aproximas devagar,
como se flutuasses no ar.
Teus passos são leves,
seguros, decididos.
Estendo os braços
e tento te abraçar,
mas por mais que eu tente
o teu rosto tocar,
percebo que estás envolto
em uma bruma cerrada
e assim de mim não consegues
te aproximar.
Tento visualizar o teu rosto,
mas vejo com desgosto,
o quanto é difícil te tocar.
A bruma se dissipa no ar,
então penso que é hora
do teu rosto eu vislumbrar,
mas vejo com tristeza
que acabo de acordar.



Débora Benvenuti

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Se eu fosse...



Se eu fosse uma estrada,
te mostraria o caminho.
Se eu fosse o sol,
te aqueceria com carinho.
Se eu fosse uma flor,
te daria o meu perfume.
Se eu fosse a lua,
seria toda sua.
Se eu fosse uma árvore,
te daria a minha sombra.
Se eu fosse um riacho,
correria para os teus braços.
Se eu fosse uma estrela,
vagaria no espaço.
Se eu fosse o vento,
sopraria de mansinho
e diria que lamento
não ser tudo isso,
mas que existo
e que tudo isso,
são coisas que eu sinto
quando te vejo,
mas nunca digo
o quanto te desejo. 




Débora Benvenuti

Silêncio





Ouço os sons do Silêncio,
ou será meu pensamento
que caminha lentamente,
perdido na neblina do tempo?
Ouço vozes.
Sons que me conduzem
por caminhos tortuosos,
por passagens e paisagens
esquecidas num canto
escuro do meu coração,
onde vagueiam perdidos
os fantasmas da minha solidão.
Vejo vultos cambaleantes,
que se afastam lentamente,
envoltos na neblina do tempo.
Vagueiam em silêncio,
como sombras indecisas,
tal qual chama de uma vela
quando sopra a leve brisa.
Ouço o silêncio
do meu pensamento.
A noite é escura.
No céu, a lua ilumina a rua,
e eu esqueço
os meus tropeços.
Não sei se mereço
o que sinto
neste momento,
em que nada espero,
nada quero.
Só ouço o silêncio
do meu pensamento,
que voraz,
me devora,
enquanto o silêncio
que faz lá fora
vai embora...



Débora Benvenuti

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Um Amor para Sempre






Estava cursando o primeiro ano de Belas Artes e costumávamos ficar no campus da universidade o dia inteiro. No horário do almoço, íamos almoçar no barzinho da agronomia, que ficava em frente ao prédio da nossa faculdade. Uma amiga sempre me acompanhava e um certo dia ela me disse: Dedé (era como me chamava),tem um cara lá no barzinho que sempre te olha quando vamos almoçar. Eu disse a ela que não havia percebido. Então ela me disse que ia me mostrar, na próxima vez que fossemos lá. Fiquei curiosa para saber quem era. No outro dia, quando chegamos ao barzinho, ele ainda não estava lá. Minutos depois, ele chegou e sentou-se na bancada do bar bem à nossa frente. Foi nesse momento que o vi. Os olhos azuis eram belíssimos e quando nossos olhares se cruzaram, eu paralisei totalmente. Se ele viesse falar comigo naquele momento, não saberia o que dizer. Fiquei sem ação. Apenas nos olhamos de longe, nos dias que se seguiram. No final de semana, como era costume entre os universitários, fomos à boate da universidade. Esperávamos a boate abrir quando o vi chegar. Ele também me viu, mas não se aproximou. Fiquei nas nuvens, pois sabia que aquela noite seria especial. Sentei-me a uma mesa com as amigas e sabia que deveria ficar esperando, pois sentia que a qualquer momento, ele viria me convidar para dançar. Não demorou muito e ele chegou. Dançamos a noite inteira,como se não houvesse mais ninguém a nossa volta. Era só ele e eu. E dançamos a noite inteira sem parar. Parecia que nos conhecíamos a vida inteira e precisávamos falar tudo o que sentíamos. Quando nos despedimos, no portão da minha casa, ele me beijou. Foi a sensação mais maravilhosa que já havia experimentado. Tinha a sensação de flutuar no ar e que o mundo girava loucamente ao meu redor. Vimo-nos muitas outras vezes. Ele estava se formando em agronomia e me disse que precisava voltar para o estado em que sua família morava. Eu sabia que o tempo estava se esgotando. Sabia também que ele não queria me enganar. Ele me contou que havia prometido voltar e se casar com uma mulher que o esperava há muitos anos. Eu queria continuar a vê-lo até o último momento, mas também não queria que ele tivesse pena de mim, quando fosse se despedir. Então escrevi uma carta para ele (naquela época não havia a facilidade da net) e disse a ele tudo o que sentia e o que temia. Ele me respondeu dizendo que não queria me enganar, que mais uma vez tentara amar, mas que não era merecedor do meu amor. Guardei a carta por muitos anos. Encontramo-nos dez anos depois e ele ainda estava solteiro. Depois disso, nunca mais soube dele. Procurei por ele no google e só encontrei pessoas de mesmo nome. Nenhum era ele. Até que há poucos dias, resolvi pesquisar diferente. Eu estava acrescentando uma letra a mais no nome dele. Quando digitei o nome correto, lá estava ele: nome completo, endereço, telefone, morando no mesmo lugar onde dissera que morava. Só tinha um detalhe: estava casado e eu divorciada...



Débora Benvenuti
Nota: foto retirada da net

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Em busca do Amanhã








Anoitece...

quantos vezes anoitece

e o amanhã, nunca amanhece...

Vejo luzes tremeluzindo

na escuridão da minha alma.

Serão estrelas que vagueiam,

perdidas no espaço

ou será apenas

a esperança,

que me estende os seus braços?

Percorro o estreito espaço

que me separa da lucidez ou da loucura

e fico a tua procura,

sem saber se és de fato,

tudo aquilo que eu desejo

ou se és apenas a sombra do meu pensamento,

que me atormenta

e me deixa assim confusa.

Vagueio lentamente,

perdida entre sonhos e delírios

e quanto mais eu penso,

mais a dúvida me acompanha

e traça figuras estranhas,

nesse emaranhado de formas obscuras,

onde nada é certo

e tudo é só uma aventura.

Queria ver o amanhecer,

mas já é tão tarde,

que julgo escurecer a luz difusa

de um novo amanhecer.

E nas cinzas desse dia que nunca amanhece,

vejo o teu vulto desaparecer e sumir ao longe,

depois de um novo anoitecer...


Débora Benvenuti

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Noite Desfigurada








Durante muito tempo te busquei,
e até pensei que houvesse te encontrado,
mas percebi que esse amor que comigo trago,
não é o amor por mim acalantado.
É do amor que me alimento
e tenho percebido apenas o sofrimento,
como resposta aos meus sentimentos.
Onde está o Amor?
procuro-te e não te encontro.
Apenas te percebo se delineando
no horizonte perdido dos meus sonhos.
E quando penso que te encontro
de mim te afastas na neblina densa
que meus olhos embaça
e que me impede de te dar o meu abraço.
É a noite desfigurada,
onde apenas as almas penadas
se perdem num longo e penoso
arrastar de sonhos dolorosos.
Onde está o Amor?
de ti me despeço mais uma vez
e continuo nessa busca incessante,
até a noite encontrar o dia
e novamente nos meus sonhos
eu puder ouvir a melodia
desse amor que aumenta a cada dia...



Débora Benvenuti

quarta-feira, 27 de março de 2013

Quem sabe um Dia







Quem sabe um dia,
eu te verei chegar sorrindo,
e toda essa angústia
que me sufoca e me deprime,
será apenas uma lembrança
de um passado já distante.
Quanto tempo ainda terei
que conviver com o coração ferido,
se tudo que eu preciso é da tua presença
e isso eu não consigo,
porque a distância é como um abismo,
intransponível e invisível,
e isto tudo não faz sentido,
porque eu te quero tanto
e tu não ouves o meu pranto.
Minhas lágrimas escorrem por todo o canto 
e por mais que eu reprima essa dor,
que me acompanha
e que me fere tanto,
sinto que a tua ausência
fere mais que o silêncio,
que agoniza com o meu pranto.
Aonde estás,
que não ouves esse lamento?
Só me diz enquanto há tempo,
porque o tempo há muito por aqui passou
e de neve meus cabelos transformou.
Quando enfim me encontrares,
saberás que existiu alguém,
que por ti esteve esperando
e não mais encontrarás
esse coração suplicante.
No lugar dele, apenas um tampo,
encoberto pela poeira do tempo,
onde se lê com letras apagadas:
" Aqui jaz um coração que te amou tanto!"




Débora Benvenuti

domingo, 17 de março de 2013

Cenário de Cinema




Um cabana pequenina

iluminada pela chama da lareira,

que fica acessa a noite inteira.

Na mesa de madeira,

a ceia servida

ainda está aquecida.

Lá fora o frio é intenso.

A neve cai em flocos

tão branquinhos,

que deixa os caminhos

ainda mais gelados,

enquanto dentro da cabana

tudo é tão quentinho.

Batem à porta

e o som evoca uma lembrança

tão distante,

de outros Natais

que não existem mais.

Ficaram esquecidos na lembrança

de quando eu ainda era criança.

O calor das chamas é aconchegante.

Esqueço esses pensamentos

agora tão distantes

e abro a porta da cabana.

Lá fora o frio é cortante

e o visitante entra trêmulo e hesitante.

Retira a capa e a echarpe

que o protegia da noite fria.

Suas mãos estão protegidas

por luvas grossas de alpinista.

Percebo que está cansado e ofegante.

Talvez tenha errado o caminho

e se perdido entre as montanhas

que a neve cobriu de mansinho.

Convido-o a se aquecer,

esperar a neve derreter,

talvez o dia amanhecer,

para que o visitante

possa o seu caminho de novo ver.

A noite é tão perfeita

que até parece cenário de cinema.

Complete você agora a cena

que se passou na cabana,

depois que o visitante

junto ao fogo da lareira,

do pesado abrigo se livrou

e a sua estória contou...


Débora Benvenuti