sábado, 5 de junho de 2010

A INTUIÇÃO


A Intuição



O dia amanhecia. Denise acordou quando o relógio despertou. Não sentiu nenhuma vontade de se levantar. Mas precisava trabalhar e aquela sensação estranha que as vezes ela sentia,mais uma vez a fazia relutar. Levantou-se,tomou o café da manhã apressada,pegou a bolsa e os livros e saiu para o trabalho. Lecionava em uma escola rural há poucos dias. Como sempre acontecia,passava na casa da amiga Núbia e iam as duas até a rodoviária,onde tomavam um ônibus,que as levava até a escola. Chegando na casa da amiga,Denise novamente sentiu aquela estranha sensação de que deveria ter ficado em casa. Comentou com a amiga e Núbia disse a ela que era uma grande bobagem. Ao chegarem na rodoviária,Denise novamente pensou em desistir e novamente a amiga a convenceu de que deveriam comprar logo as passagens e embarcar,para não se atrasarem. Ao entregarem as passagens ao cobrador,novamente aquela sensação de mal estar a impedia de raciocinar com clareza. As duas amigas se acomodaram no banco bem atrás do motorista,onde podiam ter uma visão melhor durante a viagem. Conversaram animadamente sobre a aula que deveriam dar naquela manhã e assim distraídas,mal perceberam quando o ônibus freou de repente. Foi Núbia quem primeiro percebeu o que estava acontecendo.Ela só teve tempo de dizer: vai bater. Em questão de segundos,as duas foram arremessadas contra o vidro que separava o banco em que estavam sentadas, do motorista.
A cerração era tão densa,que o motorista não percebeu uma retro-escavadeira que se movimentava na pista. O impacto foi tão grande,que as duas amigas bateram o rosto no vidro e quebraram o nariz. Denise vestia um macacão branco e um casaco de couro verde,que logo se tingiu de vermelho. Foram segundos que pareceram séculos. A fumaça que saía do radiador dava a impressão de que o ônibus estava pegando fogo. As portas de emergência não abriam e os passageiros gritavam alucinados,achando que não conseguiriam sair a tempo daquele inferno onde só se ouviam os gritos dos feridos. O motorista conseguiu sair por uma janela e como era um homem gordo e forte,começou a retirar os passageiros por ali. Denise ficou em estado de choque. Ouvia as pessoas gritarem e o som de suas vozes parecia que vinha de um outro mundo muito distante dali. Quando todos os passageiros foram resgatados, o motorista começou a atacar os carros que passavam para pedir que conduzissem os feridos até o hospital. Decidiram mandar primeiro as pessoas que estavam mais feridas. Denise foi a primeira a ser escolhida,tal o estado em que havia se transformado o seu rosto. Núbia a acompanhou. Estavam as duas feridas e não se sabia a gravidade das lesões. A viagem até a cidade parecia que não acabava nunca. Nenhuma das duas amigas sentia nada. Nenhuma dor. Só a estranha sensação de que estavam flutuando num espaço sem som algum. Ao chegarem ao hospital,ainda demoraram para serem atendidas. Denise não portava nenhum documento que a identificasse. Isso fez com que o seu atendimento demorasse mais ainda. Depois de serem atendidas,as duas amigas foram para casa,acompanhadas do pai da Núbia,que as foi buscar no hospital. Depois desse dia,Denise decidiu que toda a vez que tivesse aquela mesma sensação que a fazia hesitar,não pensaria duas vezes. Se achasse que não deveria ir a determinado lugar,ela desistia logo.E muitas outras vezes,ela teve essa mesma intuição.



Débora Benvenuti

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