Cada
vez que eu me olho no espelho, mais percebo o quanto estou parecida com a minha
mãe. Às vezes até os trejeitos dela eu estou fazendo igual. Aquela velha mania
de perder os óculos e sair a procurar,quando eles estão exatamente onde
deveriam estar: pendurados por uma cordinha no pescoço. Então minha filha
aparece e diz: mãe,tu já achou teus óculos? E eu respondo: ainda não e ela
continua: procura bem que tu acha...E não é que eu acho mesmo...? Quando eu
percebo que ela começa a rir, logo desconfio de onde eles possam estar. Ainda
bem que os óculos são só para ficar no computador. Muitas vezes, quando ela vai
sair à noite,eu faço as mesmas recomendações: leva o casaco que vai esfriar.
Cuidado ao parar na sinaleira. Não volta tarde. Quando você chegar no
barzinho,me liga e me diz se chegou bem. E lá fico eu esperando ela
ligar...Essa rotina parece que não vai acabar nunca e eu nunca vou deixar de
falar as mesmas coisas,exatamente como a minha mãe fazia. Naquela época,eu
achava que ela se preocupava demais e ficava dizendo para ela que nada ia
acontecer. Minha filha diz a mesma coisa. Então digo para ela: espera só tu ter
os teus filhos que nunca mais tu vais dormir sossegada. E a gente só percebe
que está igualzinha a nossa mãe, quando faz exatamente o que ela fazia. Um dia
a minha filha vai fazer a mesma coisa: vai se olhar no espelho e dizer: Estou
igual à minha mãe!
Faço
a mesma coisa com meu filho, só que para falar com ele, preciso subir num
banquinho.
Débora Benvenuti